Tem duas formas de lidar com o passado: uma como âncora que te prende e fixa e outra como uma bússola que te orienta e te guia para a vida”. É com essa lição de Silvio Tendler, um dos maiores cineastas brasileiros, que o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) manifesta tristeza pela partida, mas contentamento por ter encontrado no “cineasta dos sonhos interrompidos” um aliado na luta pela justiça social.

Mestre das cinebiografias, Silvio Tendler tinha no audiovisual um espaço de salvaguarda da memória política do Brasil, desde os primeiros contatos, com o Movimento Cineclubista nos anos 1970. Assim também foi com sua primeira realização, um filme sobre a Revolta da Chibata, que acabou em cinzas devido as perseguições e outras violências da ditadura civil-militar.

“Os anos JK – Uma trajetória política” (1980), “Jango” (1984), “Josué de Castro – Cidadão do Mundo” (1994), “Milton Santos, pensador do Brasil” (2001), “Utopia e Barbárie” (2009) são alguns títulos entre dezenas e mais dezenas de trabalhos feitos por Silvio Tendler em mais de meio século entre lentes, claquetes e fitas.

Os caminhos do CCLF e do cineasta se entrelaçaram quando dirigiu o filme “Conceição das Crioulas – Vestígios de Quilombo” (1996), realizado pela TV Viva. O filme fez parte do projeto do CCLF de documentação das comunidades remanescentes de quilombos em Pernambuco, marcado pelo tricentenário de Zumbi dos Palmares. O projeto foi premiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, na edição 1997. Assista ao filme na íntegra no canal do YouTube da TV Viva.

Enquanto houver cinema, Silvio Tendler viverá.

Foto: Reprodução/ Brasil de Fato