No município de Mirandiba, estudantes conseguiram aprovar as Diretrizes Curriculares Quilombola na Educação Básica junto à Câmara de Vereadores; Ação é fruto da atuação do Centro de Cultura Luiz Freire e o Fundo Malala no Nordeste brasileiro

Texto: Victor Lacerda / Edição: Lenne Ferreira

 

Imagem: Edinho Moraes/TV Viva

 

Bianca Maria, de 19 anos, uma jovem ativista do município de Mirandiba – há 486 quilômetros do Recife, em Pernambuco – quando mais nova, não acreditava que a educação quilombola era um direito. Hoje, ela e outras jovens da região não só reconhecem a importância das melhorias no processo pedagógico em suas vidas, como buscam lutar por melhorias que considerem a identidade de um povo negligenciado. A união de forças deu resultado e, com ajuda delas e de outras quilombolas que militam por melhorias na educação, conseguiram cobrar e aprovar, na Câmara de Vereadores da cidade, as Diretrizes Curriculares Municipais da Educação Escolar Quilombola.

A ação, deferida há pouco mais de dois meses, visa cumprir com o que determinam as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Quilombola na Educação Básica –  instituída com a Resolução Nº 8/2012, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. O pedido de formalização do direito é fruto da atuação do Centro de Cultura Luiz Freire na região com o apoio do Fundo Malala, responsável por trabalhar pela garantia que meninas do mundo inteiro recebam 12 anos de educação gratuita, segura e de qualidade.

Com esta aprovação, o respeito à cultura e à história dos quilombos, como os conceitos de territorialidade, ancestralidade e suas identidades, devem ser levados, ainda mais, como pilares do processo de formação dos ensinos fundamental e médio. Mirandiba, além de ter 80% da sua população de origem negra, é composta por 15 comunidades quilombolas reconhecidas e outras seis em processo de reconhecimento.

 

Bianca Maria, de 19 anos, é uma das ativistas pela educação quilombola em Mirandiba

Imagem: Edinho Moraes/TV Viva

 

“Só éramos lembrados no Dia da Consciência Negra, então, graças ao projeto me senti muito confiante, pois precisamos de espaço nas escolas para mostrarmos nossas culturas e nossos aprendizados. Depois da aprovação, acho que isso mudará os nossos conhecimentos na comunidade e que nós, jovens, poderemos agir de todas as formas pelas nossas conquistas”, reflete Bianca.

De acordo com a população atuante na luta, cumprindo com direitos básicos como a educação quilombola, o poder público vai na contramão da negligência com centenas de jovens que veem-se distantes de uma perspectiva de sucesso e à margem dos avanços sociais, educacionais e econômicos.

A líder quilombola de Mirandiba, Ângela Santos, reflete sobre as expectativas para educação escolar das meninas e dos meninos quilombolas do município após a aprovação das diretrizes e o impacto na comunidade. “Que seja pensada com mais amor, dedicação e compromisso: algumas dessas sequer tivemos. Bem como qualificar a escola, educador, coordenador, diretor e com a participação da comunidade, gerando mais qualidade na educação do campo dentro das nossas comunidades. Grande impacto na comunidade quando começa a perceber que tudo já começa diferente e se não o fizer; nós líderes estamos prontos para cobrar. Nesse projeto tiramos muitas lições e a maior delas foi o direito! Vamos continuar pela efetivação das Diretrizes”, afirma Ângela.

Fonte: Alma Preta