“Como as pessoas estão vivendo a educação, sobretudo, as estudantes e os estudantes?”, questiona Liz Ramos, do Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF). Responder essa pergunta fez parte da live transmitida pelo canal do YouTube da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação (CNDE) na última sexta-feira (13).

Do “Encontrão – Meninas e Jovens Mobilizadas por Escolas Seguras e Acolhedoras”, que teve mediação de Flávia Lucena – radialista do Centro das Mulheres do Cabo (CMC) – participaram os Núcleos de Adolescentes e Jovens de cinco municípios pernambucanos – Mirandiba, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Olinda (Peixinhos) e Recife (Sítio dos Pintos) -, que apresentaram produções realizadas como fruto de oficinas sobre comunicação. Também estiveram na transmissão representantes do Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec), do Centro das Mulheres do Cabo (CMC), do Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) e do Comitê Pernambucano pelo Direito à Educação, por meio da Campanha Nacional e o Fórum de Educação Infantil de Pernambuco (FEIPE).

A reunião aconteceu como parte do projeto “Escolas Seguras e Acolhedoras para a Convivência das Meninas e Jovens Mulheres com a Covid-19 em Pernambuco”, desenvolvido pelas instituições presentes com o apoio do Fundo Malala.

O que dizem as entidades

Para Liz Ramos, do CCLF, é necessário estar atento aos impactos que a pandemia está provocando, afinal o Brasil se aproxima de 570 mil mortes pela Covid-19. No que se refere à educação, foram aplicadas várias mudanças, como o ensino remoto, as aulas à distância e o ensino híbrido, no entanto, nem todas as pessoas conseguiram ser incluídas. Dessa forma, mais do que nunca, a escola precisa ser segura e acolhedora. “Segura no sentido da segurança da saúde, da segurança alimentar, da segurança das pessoas estarem na escola como um ambiente em que se sentem à vontade”, afirma a educadora. “Também uma escola acolhedora que possa acolher os seus estudantes, as suas estudantes, naquelas necessidades que cada um tem, na sua diversidade, nas suas coisas específicas”, completa.

Já Cássia Jane, do CMC, trouxe o olhar que o projeto teve na questão de gênero. “O recorte de gênero é uma coisa muito interessante, pois sabemos que meninos e meninas foram afetados pelo fechamento das escolas, os profissionais da educação homens e mulheres foram afetados, mas o quanto isso afeta a questão das mulheres? E das meninas?”, destaca. Há um leque de variáveis que atingem diretamente esse grupo, variáveis essas que já existiam antes mesmo da pandemia, mas que foram agravadas com o isolamento social, a exemplo do trabalho infantil doméstico, herança da desigualdade social e da divisão sexual do trabalho doméstico. A gravidez não intencional, o casamento infantil, o abuso e a exploração sexual são pontos que também estão presentes na realidade dessas jovens, que encontravam nas escolas um lugar de refúgio e que estiveram fechadas no contexto da pandemia.

Além disso, Paula Ferreira, pedagoga do Cendhec, frisou a importância do projeto demarcar a dimensão de classe e raça no contexto brasileiro. “Falar de educação pública é falar de uma perspectiva, sem dúvidas, racial, já que as meninas negras se encontram numa sociedade marcada por uma herança colonialista, que discrimina grande parcela da população, que tem cor, pele e territórios bem definidos”.

O que dizem os jovens

Os Núcleos de Adolescentes e Jovens aproveitaram o espaço para socializar os trabalhos construídos em coletivo nas oficinas de comunicação e produção de conteúdos. No vídeo “Para os/as jovens de Mirandiba, uma escola segura é…”, realizado pelo Núcleo de Mirandiba, que está localizado no Sertão do Pajeú pernambucano, a juventude mandou o seu recado sobre como devem ser as escolas e a educação. “Escola segura é a que os professores, gestores, alunos e funcionários sejam todos vacinados, que usem máscara, álcool em gel e mantenham o distanciamento social”, garantem os estudantes. Ressaltam ainda que o ano letivo pode ser recuperado, diferente das vidas. Também denunciam as dificuldades com o transporte escolar precário e a falta de acesso à internet para assistirem as aulas, situação enfrentada por quase todas as 21 comunidades quilombolas da cidade.

O Núcleo do Cabo de Santo Agostinho, município da Região Metropolitana do Recife, trabalhou com a gravação de spots. Utilizando frases de um documento feito através da escuta de educadores e jovens, o “Recomendações da Sociedade Civil para o Retorno Presencial das Atividades Educacionais em Pernambuco” elas reivindicaram: “Um ambiente seguro e acolhedor só acontece quando todo mundo participa”. O mote “As meninas do Cabo de Santo Agostinho exigem escolas seguras e acolhedoras. Nas voltas às aulas não queremos adoecer, queremos aprender” destaca a potente participação de meninas entre 14 e 18 anos que lutam pelo seu direito à educação.

Enquanto isso, o Núcleo de Peixinhos utilizou da poesia falada, a partir de uma oficina realizada com a artista pernambucana Bione, e de uma rádio novela após uma troca com a radialista Flávia Lucena, para denunciar a negligência do poder público com o bairro, que sofre com um alto índice de pobreza e genocídio da população preta. “Serviço essencial é o que bota comida na mesa e muita gente ainda acha que é besteira. Como vou lavar as mãos se não tem água na torneira? O auxílio emergencial não paga nem uma feira”, ecoa a juventude.

O Núcleo de Sítio dos Pintos também seguiu pelo caminho da poesia falada e usou desse momento para desabafar sobre este período de aulas remotas e isolamento social na comunidade. “Queria poder ter ainda mais facilidade, mas até pros professores falta acessibilidade .Ambiente virtual, um monte de aula online, perdemos de vivenciar a escola da humanidade”. Além disso, os jovens também produziram um vídeo contando um pouco das suas vivências escolares e sociais durante a pandemia. 

As meninas entre 12 e 15 anos do Núcleo de Camaragibe aproveitaram as oficinas para produzir cartazes com dizeres que representam o que elas querem na volta às aulas: “Que não julguem ninguém por ser branco, preto, gordo(a)” / “Uma escola segura e acolhedora mantém o distanciamento social” / “Escola segura tem salas com ventiladores e janelas” / “Escola segura e acolhedora garante apoio psicológico aos professores e alunos”.

Para conferir como foi a live, basta clicar aqui! 
E para acompanhar os materiais feitos, basta acessar o instagram do projeto.

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Escrito por Marcelo Dantas, estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e estagiário de comunicação do CCF.

Editado por Rebecka Santos, jornalista e coordenadora do Programa Comunicação e Incidência e Direito à Comunicação do CCLF.

 

Imagens: Comunicação CCLF