No mês de outubro, a equipe da Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (ASCQUIMI) deu início a um importante passo no plano de mobilização comunitário do projeto Implementação das Diretrizes Municipais da Educação Escolar Quilombola de Mirandiba, ao começar um ciclo de visitas às comunidades quilombolas da cidade.

De acordo com dados da ASCQUIMI, o município do sertão do Pajeú – cuja 85% da população é negra, segundo o IBGE – possui 27 comunidades quilombolas, sendo 14 delas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, enquanto as demais estão em estágios diferenciados de reconhecimento oficial.

Os encontros realizados até então foram nos Quilombos: Queimada (03/10), Pau de Leite (09/10), Várzea do Tiro (10/10), Quixabeira Helena e Riacho do Meio (17/10), Riacho das Pedras (25/10), Pedra do Amolar/ Peus (31/10), Mandacaru (01/11), Feijão e Posse (06/11) e Ponta da Serra (07/11).

“Para nós era algo quase impossível, por não termos transporte, por não termos dinheiro, as comunidades são muito distantes, cada qual com a sua problemática”, relata Ângela Santos, liderança do Quilombo Pau de Leite, sobre as barreiras que precisam ser ultrapassadas nesse processo de visitação.

A liderança destaca ainda que as comunidades sentem que é necessário ter pessoas ou grupos fazendo essas intervenções, algo comum de acontecer durante os períodos eleitorais – embora com interesses imediatos e que não dialoguem com a realidade dos Quilombos.

O espaço serve para a troca de saberes e experiências, e como convite para a população do território se organizar em torno de suas reivindicações. Um material gráfico foi elaborado em conjunto com as lideranças e o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) para circular entre as comunidades, destacando os Direitos Humanos e o Direito à Educação. Nesses momentos é apresentada a Lei Nº 683/2020 – que define as diretrizes curriculares da educação quilombola em Mirandiba – e como anda sua implementação.

“De nada adiantaria ter a implementação [das Diretrizes] sem as famílias estarem sabendo o que está acontecendo, é importantíssimo que esse recado chegue aos mais necessitados, esse é o primeiro dos grandes avanços que a gente está tendo nesse processo”, afirma a membra da ASCQUIMI.

A escola e a educação têm grande importância para a população quilombola de Mirandiba, pois a encaram como responsáveis também por manter a comunidade viva, tanto que nos locais que não possuem mais escolas, ou que não estão em funcionamento, o sentimento é de angústia. “Que tipo de educação está sendo ofertada na cidade? Que tipo de educação está sendo ofertada no transporte escolar? Que tipo de educação está sendo ofertada nesses outros ambientes que os pais não estão vivenciando?”, indaga Ângela Quilombola.

Segundo um levantamento realizado pela própria ASCQUIMI, das 19 comunidades envolvidas na pesquisa, apenas três delas possuem escolas abertas. Os quilombos Pau de Leite, Juazeiro Grande, Balanço, Pedra Branca, Araçá, Queimadas e Caruru são exemplos de localidades que possuem escolas em seus respectivos territórios, mas estão fechadas – algumas desde 2017. Das que estão em funcionamento, a estrutura não responde ao que um espaço educacional precisa. No estudo, as lideranças as categorizam como “deterioradas”. 

PANDEMIA

A pandemia da Covid-19 não acabou, mas a volta às ações de incidência presenciais, dentro das possibilidades existentes, fez-se necessária para garantir que as políticas públicas sejam criadas e cumpridas para atender a população. A equipe da ASCQUIMI vem tomando as devidas precauções ao seguir as recomendações das autoridades sanitárias, por meio da utilização de máscaras, lavagem de mãos e uso de álcool gel.

Segundo dados do portal da Prefeitura de Mirandiba, 10.328 pessoas tomaram a primeira dose das vacinas contra a Covid-19, de um total de 15.548 pessoas (número estimado pelo IBGE).

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Co-escrito por Marcelo Dantas, estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e estagiário de comunicação do CCLF, e por Rebecka Santos, jornalista e coordenadora do Programa Comunicação e Incidência e Direito à Comunicação do CCLF.

 

Fotos: Ascquimi