Fruto da parceria entre o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) e a Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (ASCQUIMI), junto à contribuição da TV Viva e apoiados pelo Fundo Malala, o Núcleo de Juventude, Educação e Comunicação de Mirandiba deu os primeiros passos para a sua instalação no dia 07 de agosto, através de encontro virtual com jovens das 21 comunidades quilombolas de Mirandiba, além da presença da Ororubá Filmes e o Crioulas Vídeo. A ação ocorre como parte do projeto Diretrizes Municipais da Educação Escolar Quilombola, que visa o fortalecimento da luta e organização das comunidades quilombolas de Mirandiba em torno de uma educação pública, gratuita e de qualidade.

Os Núcleos, que estarão em duas comunidades de Mirandiba, tem como objetivo dar as ferramentas necessárias para que esses e essas jovens assumam o protagonismo da vida política de onde moram, incidindo, através da comunicação, na defesa e promoção dos Direitos Humanos.

 

Serão duas frentes de ciclos formativos, uma que lidará com as técnicas do audiovisual ministradas e outra com as pautas sociais ministradas pelo próprio CCLF, pela TV Viva e outros/as convidados/as. Sobre as técnicas, a juventude terá acesso a equipamentos adequados para que possam produzir e aprender práticas como filmar, captar som, entrevistar e outras possibilidades. Nesses ciclos, também ocorrerão momentos para dialogar sobre Comunicação e Direitos Humanos, com atenção especial para o direito à educação. A união das técnicas com os temas sociais possibilitará que esse grupo de jovens quilombolas incida de maneira mais efetiva, ao informar a população, cobrar o poder público e divulgar o que acontece na cidade do Sertão do Pajeú.

Para Rogério Barata, do CCLF, a participação das meninas e meninos é fundamental para transformar a realidade. “A gente quer mudar a educação, a gente quer uma educação de qualidade, mas que qualidade é essa? Quem tem que dizer, principalmente, são os sujeitos desses direitos”, ressalta.

Sobre as vivências ao longo do projeto, as jovens destacaram a oportunidade em ter novas experiências e aprendizados. “Foi uma experiência boa, pois além de estarmos interagindo com todas, estamos também conhecendo novas pessoas. Foi bom e vai continuar sendo”, afirma Ayane, uma das participantes do Núcleo.

Mídia independente, indígena e quilombola

O encontro virtual contou com a presença de dois grupos da mídia independente, a Ororubá Filmes e a Crioulas Vídeo, os quais relataram as dificuldades e alegrias do trabalho social com o audiovisual. 

A Ororubá Filmes, do Povo Xukuru, da cidade de Pesqueira, é um grupo que nasceu em 2008, a partir da necessidade de construir suas próprias narrativas, uma vez que é prática comum da grande mídia reforçar os estereótipos da população indígena. “O intuito [da fundação da Ororubá Filmes] era a gente fortalecer nossa história, mostrando nossa luta, nossa cultura, nosso ponto de vista”, revela Diego Xukuru, membro do grupo de mídia indígena. A pandemia da Covid-19 impediu que a Assembléia do Povo Xukuru acontecesse de forma presencial, e, sob a filosofia “utilizando o que tem de moderno para fortalecer o que tem de ancestral”, a equipe de dez pessoas transmitiu o evento, alcançando pessoas da Argentina, Colômbia, França e Portugal.

De forma parecida, o Crioulas Vídeo, da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, surge para preencher a ausência do acesso a ferramentas do audiovisual, e, com isso, agregar na militância da comunidade. “A ideia principal era fortalecer o Movimento Quilombola, dar visibilidade às questões de Conceição das Crioulas e registrar as ações de dentro do quilombo”, explica Adalmir, do grupo do audiovisual independente. Para fazer parte do Crioulas Vídeo existem alguns critérios que devem ser seguidos, como a participação paritária de gênero, pertencer a diferentes regiões e encampar a luta do Movimento Quilombola.

A iniciativa em Conceição das Crioulas traz semelhanças com a de Mirandiba, uma vez que ambas foram criadas a partir de uma parceria com o Centro de Cultura Luiz Freire e a TV Viva para contar suas versões dos fatos, comunicar, incidir e denunciar, indo para além da mídia hegemônica.

Para acompanhar o trabalho da Ororubá Filmes, basta clicar aqui
E para ficar por dentro do Crioulas Vídeo, pode clicar aqui

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Escrito por Marcelo Dantas, estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e estagiário de comunicação do CCLF.

Editado por Rebecka Santos, jornalista e coordenadora do Programa Comunicação e Incidência e Direito à Comunicação do CCLF.

 

Imagens: Comunicação CCLF