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No último domingo, dia 17, a sociedade e a democracia brasileira sofreram um golpe com a votação, no Congresso Nacional, da abertura do processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff, sem caracterização de crime de responsabilidade. O resultado da última eleição foi desrespeitado e o estado democrático de direito ameaçado por setores conservadores, pela grande mídia, e por parte da estrutura jurídica do País. Camuflado por trás do discurso contra a corrupção, se orquestrou uma extensa pauta de subtração de direitos sociais e culturais conquistados com muita luta, ao longo dos últimos anos.

O processo político vem mobilizando diferentes segmentos da sociedade civil, tanto a favor do golpe, como em defesa da democracia. É nítido o crescimento e fortalecimento dos setores ultraconservadores no Congresso, porém, o que nos surpreende na votação são a fragilidade do discurso e a expressão da misoginia (ódio ou aversão às mulheres. Esta forma de aversão mórbida e patológica ao sexo feminino está diretamente relacionada com a violência que é praticada contra a mulher e ao feminicídio, inclusive) da maioria dos parlamentares que votaram a favor do impeachment, onde inclusive um deles homenageou o Cel. Brilhante Ustra, torturador da presidenta e de outras presas políticas, na época da ditadura civil-militar, em 1964.

A decisão pela retirada de uma presidenta, que não tem crime de responsabilidade, ser balizada em votos “pela família… por Deus… pela Igreja e tal… pelo Estado de Israel.. “, em uma democracia laica é indigno e banaliza todo o processo democrático . Além de toda a desconstrução das questões de gênero, expressada claramente nos cartazes “Tchau Querida” , empunhados pelos parlamentares golpistas.

O Centro de Cultura Luíz Freire, que há 43 anos atua pela promoção, defesa e fortalecimento da democracia, vem nesta nota repudiar a forma não-democrática, sexista, fascista, manipuladora e golpista que parte significativa da classe política brasileira vem expressando neste tempo de crise política e de valores, fomentando o discurso de ódio e dificultando o necessário debate democrático. Esse grupo político não representa a maioria das brasileiras e dos brasileiros.

O CCLF seguirá lutando pelo fortalecimento da nossa, ainda frágil, democracia, seja nas ruas, nos espaços políticos e de representação popular, ou junto aos nossos parceiros e apoiadores, a fim de promover um diálogo que garanta uma sociedade mais justa e harmônica e a pluralidade de vozes na sociedade.