Por Rafaela Lima e Domênica Rodrigues*

No dia 27 de abril, o CCLF deu início ao LiterArte, projeto de debate cultural que uma vez por mês colocará na roda um tema diferente para discussão com convidadas e convidados especiais, além de vídeos , musica, poesias e outras formas de expressões artísticas.

Em sua primeira edição, o projeto LiterArte elegeu como tema “Apropriação Cultural, um conceito em Debate: Turbante e / ou torço – quem pode ou não usar” e recebeu para o debate Mãe Lúcia de Oyá, Yalorixá do Ilé Àsé Oyá T`Ogun, e Jaquelne Alves, Abian do Ilé Àse Òrìsànlá Tàlábí. A noite também teve a participação da Cia de Dança Riacho de Pedra com o espetáculo Chetuá, inspirado na tradição dos vaqueiros da Jurema sagrada, que deixou o público encantado e emocionado com a beleza, profissionalismo e veracidade da apresentação e seus símbolos.

A roda de diálogo tratou a discussão como problema social que é, e não como assunto individual como infelizmente a abordagem distorcida das grandes mídias costuma fazer.

Para Mãe Lucia, no debate sobre apropriação cultural e religiosidade, é importante destacar que o torço não é apenas um pano de cabeça, mas um elemento de ligação do Ori com o Orixá, sendo ele um elemento crucial para a manutenção ritualística que fazem parte simbologicamente da personalidade de cada Orixá.
“O Torço faz parte da roupa do orixá, não é só um pano que a gente coloca na cabeça, lá no terreiro, temos a obrigação de usá-los para proteger o nosso Ori”, explica.

Foram pontuadas questões como a construção de referenciais de representação e a importância do lugar e reconhecimento de cada um no mundo.

Jaqueline relembrou o caso que foi repercutido em diversas redes de comunicação da suposta agressão à pessoa não negra (como ela considerou) que usava turbante em um vagão de trem no Rio grande do Sul. Para ela, o incidente provocou uma onda de pessoas declarando seus conceitos sobre africanidades e o uso de elementos culturais afro-brasileiros com ou sem repudio e ou identificação.

Na sua opinião, todas as pessoas podem usar o que quiser, mas devemos saber a história de cada peça que queremos utilizar para não fazermos uso de palavras, objetos, indumentárias e reproduzir conceitos sem ter certeza do que se trata. “Todo mundo pode usar tudo, mas tem que respeitar ao menos a história que cada um traz em si,sua cultura”, resume Jaqueline.

O LiterArte acontecerá toda terceira sexta-feira de cada mês, com parceiros e participantes para continuar fazendo deste espaço um local de convivência pacífica e de construção de conhecimento e sabedoria, onde as diferenças são respeitadas e tratadas em suas especificidades. A produção e mediação ficaram por conta de Rafaela Lima e Domênica Rodrigues.

O LiterArte nasce do desejo de articular as ações permanentes da Biblioteca Solar de Ler, do CCLF, com e para o público em geral. A proposta política e poética foi criada com a intencionalidade de articular a literatura em suas diversas expressões e diálogos, promovendo a literatura como um direito humano e o direito humano à leitura como uma bandeira de luta.

* Rafaela Lima é da equipe de Direito à Educação do Cultura Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF); Domênica Rodrigues é educadora popular.