Elizete Maria dos Santos[1]

Karla Reis Gouveia[2]

 

Entrega do gás. Problematizando sobre a situação econômica do país. Foto: MST-PE

A experiência de Educação Popular da Brigada Dom Hélder Câmara, braço urbano do MST no Recife, teve início em 2020 com o advento da pandemia, quando muitas mulheres e homens trabalhadoras/es, a maioria chefes de família, tiveram suas vidas impactadas perdendo suas fontes de renda. A pandemia da COVID-19 veio aprofundar as crises social, econômica e política no Brasil, agravando a crise sanitária e fazendo com que o país voltasse ao mapa da fome.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conhecido como movimento campesino desde 1984, deflagrou no início de  2020 uma grande ação de solidariedade em Recife com o Projeto Marmita Solidária, destinado à população em situação de rua e residentes do centro da cidade. Paralelo a isso, foi articulada uma Rede de Mulheres Costureiras, voluntárias, protagonizada pela Marcha Mundial de Mulheres (MMM) e sanitaristas da UFPE e FIOCRUZ/PE, a fim de produzir máscaras de proteção individual. Ao mesmo tempo em que houve formação de Agentes Populares de Saúde (APS), objetivando a orientação das ações de informações sobre o COVID-19 para as periferias urbanas do Recife e região metropolitana.

Recebimento de cabeça de peixe e organização para entrega nas comunidades. Foto: MST-PE

A partir daí, vários voluntários, movimentos sociais, sindicais, estudantis, instituições governamentais e não-governamentais, foram se somando e constituindo a Campanha Mãos Solidárias[3], em defesa da vida do povo pernambucano.

Então em finais de 2021, o MST institucionalizou a Brigada Dom Hélder Câmara (BDHC)[4], dividida em Brigadas de Mobilização Territoriais que foram adentrando nas comunidades com ações de solidariedade ativa e organização popular. Educadores Populares e Agentes Populares de Saúde passaram a, através de rodas de conversa e debates, objetivar também elevar o nível de consciência política da população, transformando essas ações em trabalho de formação de base e de educação popular.

Curso de Agentes Populares de Saúde. Foto: MST-PE

Importante ressaltar o papel do Educador/Agente Popular, contribuindo para que o povo seja construtor de um processo coletivo de intervenção na realidade, considerando que

Educação popular é o esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares. É a capacidade de entender o que está acontecendo (conjuntura), o que conduz a estes acontecimentos (estrutura), o que aconteceu antes que nos levou até o momento atual (história). É saber ler a realidade na sua atualidade (contradições e forças sociais) e ser capaz de propor ações para alterar, em parte, esta realidade (conquistar direitos, fazer reformas) e a se organizar para lutar para transformar a sociedade (reformas de base, visando um projeto popular) e vista de uma sociedade que vá além do capital. (MST, 2020)[5]

Os Educadores/Agentes populares da BDHC – militantes, profissionais e conhecedores das áreas de saber – vem atuando nas áreas de saúde, alimentação, trabalho e renda, direitos, educação e comunicação, apoiando e se inserindo nas seguintes ações: Bancos de Alimentos, Cursos de Agentes Populares de Saúde, Cursos de Agentes/Educadores Populares, Cursos de Corte e Costura, Oficinas de Bijuterias, Hortas Domésticas e/ou Comunitárias e o Roçado Solidário onde pessoas da cidade vão para o campo plantar e colher alimentos para serem doados.

Curso de corte e costura. Foto: MST-PE;

Nesse sentido, a Brigada Dom Hélder Câmara vem então, com a atuação dos seus Educadores/Agentes Populares em Recife, construindo a muitas mãos, um futuro de mudanças e se inserindo na luta por um Projeto Popular para o Brasil.

 

[1] Pedagoga. Professora da Rede Municipal de Recife, gestora da Creche Municipal Irmâ Dulce e dirigente da APEMAS – Associação Pernambucana das Mães Solteiras.

[2] Pedagoga. Mestra e Doutora em Educação pela UFPE. Técnica em Assuntos Educacionais do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

[3] https://www.campanhamaossolidarias.org/quem-somos

[4] A Brigada Dom Hélder Câmara é dividida em cinco territórios: Centro, Casa Amarela, Ibura, Camaragibe e Paulista

[5] MST. Curso de educação popular para formação de agentes populares no campo e na cidade. Recife: 2020

 

Fotos: Reprodução/ MST-PE