Ao compreender a educação como um direito humano essencial para o desenvolvimento do sujeito e da sociedade, e que ela não se descola do contexto do indivíduo, a atuação para a garantia de uma educação escolar pública, de qualidade e específica para as populações quilombolas necessita de espaços formativos junto aos docentes e lideranças dos quilombos para repensar questões educacionais que façam sentido com a realidade de cada um e cada uma.
“As formas de educação próprias de cada comunidade podem e devem contribuir na formação de uma política e práticas educacionais adequadas, capazes de atender aos anseios, interesses e necessidades diárias dos grupos, tendo em vista que os conhecimentos “tradicionais” não são incompatíveis com os conhecimentos da escola contemporânea, pelo contrário, devem estabelecer um diálogo permanente. Trata-se de transformar a escola eurocêntrica num projeto político pedagógico que respeite, valorize saberes, modos de vida e que contribua na autonomia sociopolítica e econômica dessas comunidades, respeitando os tempos e espaços próprios dos grupos.” (Centro de Cultura Luiz Freire; Comissão Estadual de Comunidades Quilombolas de Pernambuco, p. 06) 1.
Foi pensando justamente nestes espaços formativos que, no dia 26 de abril, o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), em parceria com a Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (ASCQUIMI), realizou a primeira Oficina de Formação de Professoras/es e Lideranças Quilombolas sobre a Educação Escolar Quilombola. A atividade fez parte das ações do projeto Educquilombo – Educação Escolar Quilombola.
Ocupando o Centro de Cultura e Cidadania Zumbi dos Palmares, no centro de Mirandiba, a formação foi mediada por Liz Ramos e Rogério Barata, ativistas pelo Direito à Educação e educadores do CCLF, e teve como mote a Lei Nº 683/2020, que define as Diretrizes Curriculares da Educação Escolar Quilombola no município – Lei esta conquistada através de intensa luta e articulação das lideranças quilombolas no projeto Educquilombo, com destaque para as mulheres e jovens que se fizeram presentes e atuantes durante todo o processo, e que continuam na mobilização pela implementação das Diretrizes.
Com aproximadamente 25 participantes, também foram partilhadas percepções sobre as realidades vivenciadas por cada profissional, liderança e estudante, uma vez que são esses sujeitos que “[…] irão reinventar a escola em seus contextos históricos, realizando o seu próprio Projeto de Escola vinculado ao Projeto de Sociedade de suas comunidades.” (Centro de Cultura Luiz Freire; Comissão Estadual de Comunidades Quilombolas de Pernambuco, p. 07).
“Fiquei lisonjeada em participar desta formação. Foi muito rico para mim esse momento, porque estou saindo daqui com uma carga muito grande de aprendizado referente aos nossos direitos quanto à educação dentro de uma escola. Na escola integral nós não trabalhamos esses temas como deveriam, a exemplo das Diretrizes [Curriculares da Educação Escolar Quilombola], até porque não está incluso na grade curricular. Mas saindo daqui nós poderemos debater com a gestão das escolas para vermos quais formas podemos trabalhar as Diretrizes Quilombolas [na sala de aula], sabendo que a nossa cidade tem um grande quantitativo de pessoas que se identificam como quilombolas”, destaca Gilvaneide Andrade, moradora do Quilombo Tupanaci e professora da Rede de Ensino de Pernambuco.
Através da partilha sobre a concretude do ensino, da formação, do acesso e da permanência da escola nas comunidades, que fatores como transporte escolar, direito de ir e vir, racismo, homofobia, ancestralidade e apagamento histórico foram sendo postos na roda formada para entender os aspectos culturais, geográficos e políticos do fazer o ensino na cidade de Mirandiba, componentes fundamentais para efetivação da Educação Escolar Quilombola.
“Pensar em educações quilombolas implica, portanto, entender as relações existentes no dia-a-dia das pessoas, a relação entre homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens e idosos e a relação deles com a terra, com o sagrado, com a cultura e com as diversas formas de organização.” (Centro de Cultura Luiz Freire; Instituto Sumaúma, p. 10) 2.
O Educquilombo – Educação Escolar Quilombola é fruto da parceria entre o CCLF e a ASCQUIMI e apoiado pelo Fundo Malala em Pernambuco.
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Princípios da Educação Escolar Quilombola (clique aqui)
Educação Quilombola: um direito a ser efetivado (clique aqui)
REFERÊNCIAS
1 Centro de Cultura Luiz Freire; Comissão Estadual de Comunidades Quilombolas de Pernambuco. Princípios da Educação Escolar Quilombola. Olinda.
2 Centro de Cultura Luiz Freire; Instituto Sumaúma. Educação Quilombola: um direito a ser efetivado. Olinda.
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Escrito por Marcelo Dantas, estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e estagiário de comunicação do CCLF.
Editado por Rebecka Santos, jornalista e coordenadora do Programa Comunicação e Incidência e Direito à Comunicação do CCLF.
Fotos: Comunicação CCLF