Via Observatório Ensino da Língua Inglesa
O projeto “Papo de Menina”, do Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), foi uma das iniciativas selecionadas no edital “Meninas que Vão Além” do British Council e vai trabalhar Direitos Humanos e saúde mental com meninas negras de Olinda (PE).
O CCLF é uma organização não-governamental com 50 anos de experiência, situada no centro histórico da cidade de Olinda e atua no direito à educação, cultura e direito à comunicação. Além de ter o orgulho de que sua sede é palco de diversas manifestações culturais e literárias, o CCLF também é referência em educação quilombola e indígena.
Com vasta atuação no Sertão pernambucano, a organização está há cinco anos presente na cidade de Mirandiba (PE) – região que apresenta grande número de comunidades quilombolas – a partir de um projeto do Fundo Malala. O CCLF conseguiu aprovar a lei que obriga o município a implementar as diretrizes curriculares quilombolas e, desde então, vem acompanhando esse processo de implementação.
Os desafios e o direito à educação de meninas
Para Ilka Guedes, educadora do CCLF, os maiores desafios para as meninas negras no acesso à educação dizem respeito ao racismo, às desigualdades de gênero e, atualmente, às dificuldades impostas pela pandemia do Covid-19, quando muitas meninas não conseguiram se manter nas escolas. Seja pela dificuldade do acesso às ferramentas online de educação, seja pela necessidade de contribuir com a renda familiar ou de cuidar dos afazeres domésticos, a evasão escolar de meninas, sobretudo meninas negras, foi enorme.
“O racismo estrutural do cotidiano é uma coisa muito forte para as meninas em relação ao direito à educação. E tem uma coisa que se apresenta muito forte para as meninas que é a desigualdade de gênero”, afirma Ilka. No que diz respeito à desigualdade de gênero, ela também nos lembra que o trabalho doméstico, a gravidez na adolescência e as dificuldades econômicas são questões que colaboram para o abandono escolas das meninas.
Planejando o futuro
Durante seis meses o projeto “Papo de Menina” do CCLF vai reunir quarenta meninas, prioritariamente negras, dos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, de escolas públicas do entorno do sítio histórico de Olinda (PE).
Semanalmente, as meninas terão encontros na sede da ONG e receberão auxílio financeiro para participar das atividades. A formação vai abordar três eixos principais: educação para os Direitos Humanos, saúde mental e autocuidado e orientação profissional.
“A formação em Direitos Humanos tem uma coisa de olhar para a realidade que a gente vive e saber o porquê a gente está nesse lugar que ocupamos no mundo. Já a formação profissional traz esse componente do olhar para o futuro, para o que eu desejo e quais são os meus sonhos. A ideia é a gente ajudar a identificar o que elas desejam para o futuro e como elas podem traçar esse percurso para fazer com que ele se realize”, explica Ilka.
O CCLF considerou fundamental incluir as questões de saúde mental e autocuidado diante do impacto da pandemia para a juventude. Assim, com uma equipe de psicólogos de apoio, irá promover terapia comunitária para as meninas, além de rodas de conversas sobre diversos assuntos relacionados.
O “Papo de Menina” é um projeto que tem grande preocupação com o futuro de meninas negras e deseja sobretudo oferecer formas de reagir às estruturas racistas e promover mudanças nas realidades delas. Segundo Ilka, “que elas possam aprender como lidar com o racismo do cotidiano, com as desigualdades de gênero do cotidiano e que aprendam a se defender disso. Eu acredito que a gente tenha um papel muito importante nisso, que a gente possa identificar como o racismo estrutural age na vida da gente”.
Ao final do projeto, o CCLF pretende realizar “Diálogos nas escolas”, com o intuito de levar para as instituições de ensino da proximidade o debate sobre o futuro profissional da juventude negra. Convidando mulheres negras que sejam referência em suas áreas de atuação, para promover a discussão com toda a comunidade escolar apresentando a diversidade de profissões que podem escolher e, também, dar espaço para as meninas participantes do projeto compartilharem as suas experiências, como forma de ampliar o alcance do “Papo de Menina”.
Para saber mais, assista o vídeo: