“Tínhamos bons motivos para nos alinhar com os movimentos radicais de massa daquele período [anos 1960 e 1970]. Nós tecíamos sonhos de um mundo melhor – sem racismo, sem injustiças econômicas, sem guerra. Nós imaginávamos um futuro mais humano, mas também arriscávamos a vida para derrotar o racismo […]”, é com este trecho da página 146 do livro “Mulheres, Cultura e Política”, que começamos a celebrar os 80 anos de Angela Davis.

Nascida em 1944, no Alabama, Estados Unidos, Angela Davis é uma das vozes mais potentes sobre feminismo, antirracismo e anticapitalismo. Com uma trajetória acadêmica brilhante e em harmonia com a vida política, a ativista foi orientada, em momentos distintos, por duas das maiores referências na filosofia e sociologia, ambos da Escola de Frankfurt: Herbert Marcuse e Theodor Adorno. Antes de finalizar o doutorado na Alemanha, a filósofa sentiu a necessidade de retornar aos EUA para participar mais ativamente da luta pelos direitos civis.

Em 1968, se filia ao Partido Comunista e assume o cargo de professora assistente na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), onde sofreu intensa perseguição política, com destaque para o então governador Ronald Reagan, sendo demitida em 1969. Nesse contexto, chegou a fazer parte da lista dos 10 fugitivos mais procurados pelo FBI e foi presa por mais de um ano, sob a acusação de assassinato, sequestro e conspiração. A prisão da ativista desencadeou forte reação popular com a campanha “Libertem Angela Davis”, apoiada por diversas figuras públicas, como John Lennon, Yoko Ono e a banda Rolling Stones, que musicaram homenagens para ela. Com a liberdade restabelecida, Angela passa a dedicar seu olhar também para o abolicionismo penal, tanto na prática ativista, quanto na atividade acadêmica.

É difícil de mensurar as contribuições da filósofa para os movimentos políticos e para os estudos sociais e filosóficos, mas é certo dizer que a professora que já foi candidata à vice-presidente dos EUA – em 1980 e 1984 – continua a inspirar e nos encher de ânimo de luta, seja com seus escritos – “Mulheres, Raça e Classe” e “A liberdade é uma luta constante”, por exemplo – ou com suas palestras e visitas ao redor do mundo. Numa passagem pelo Brasil, inclusive, ressaltou a importância da pensadora brasileira Lélia Gonzalez.

“Por fim, jovens amigas e amigos, lembrem-se de que vocês não devem apenas imaginar e sonhar com seus objetivos futuros – bem como com o futuro do mundo -, mas devem se levantar, unir-se e utar pela paz, por empregos, pela igualdade e pela liberdade!”, “Mulheres, Cultura e Política”, página 150.

Vida longa à Angela Davis!

 

Foto: Nunah Alle /Mídia Ninja