No final de 2022, jovens do Núcleo de Juventude, Educação e Comunicação do projeto Educquilombo – Educação Escolar Quilombola tiveram a iniciativa de escrever mensagens de reivindicação para o poder público municipal aproveitando o momento de encerramento de ano. Tendo o município de Mirandiba, sertão de Pernambuco, como cenário, as jovens engajadas na luta por uma educação antidiscriminatória escreveram em cartões postais pedidos direcionados às gestoras/es municipais, a exemplo do Prefeito e da Secretária de Educação.

A ação faz parte das atividades desenvolvidas pelo núcleo, que tem como objetivo incidir politicamente por meio da comunicação popular, comunitária e ancestral, buscando conquistar uma educação pública e específica para todas as meninas quilombolas. Dentre as mensagens enviadas, destacam-se: “Queremos uma educação livre de racismo, sexismo e homofobia”, “A efetivação das Diretrizes Curriculares da Educação Escolar Quilombola é o que desejamos para 2023” e “Merecemos um transporte de qualidade e efetivo para acessarmos a escola”.

Foto: Comunicação/CCLF

A situação das comunidades quilombolas em relação à educação é reconhecidamente mais complexa do que a da população em geral. Isso ocorre porque, frequentemente, a educação oferecida pelo Estado não atende às suas necessidades específicas, prevista nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Quilombola. Conforme dados do Censo Escolar de 2020, somente 30% das escolas em áreas quilombolas têm acesso a material didático que atenda às especificidades socioculturais das comunidades quilombolas.

Nesse contexto, a iniciativa Educquilombo, desenvolvida pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) em parceria com a Ascquimi – Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba e com o apoio do Fundo Malala, busca efetivar as Diretrizes Curriculares da Educação Escolar Quilombola com urgência. O objetivo é garantir que as escolas das comunidades tenham um currículo que valorize a cultura e a história afro-brasileira e quilombola, e que proporcione acesso à educação de qualidade.

“A iniciativa dos jovens do Núcleo de Juventude, Educação e Comunicação do Educquilombo é um exemplo inspirador de como a comunicação, o exercício do direito humano à comunicação, pode ser usada como ferramenta de mobilização e transformação social”, pontua Rebecka Santos, coordenadora do Programa Direito à Comunicação do CCLF e responsável por mobilizar a juventude para realizar uma mídia advocacy por meio de práticas educomunicativas.

“Esperamos que as gestoras/es municipais de Mirandiba levem em consideração as reivindicações desses jovens e trabalhem para atender às suas demandas”, completa a jornalista.

Envolvida nessa formação para se desenvolver enquanto jovens ativistas e defensoras do Direito à Educação Escolar Quilombola, Maria Fernanda fala sobre a importância do trabalho que vem sendo feito pelas meninas do Núcleo e de como esta ação pode ampliar suas vozes e necessidades, pressionando o poder público para ouvi-las.

“Hoje em dia nós não temos medo de encarar a realidade e temos coragem para mudar isso. Estamos aqui para mudar nossa realidade e nos juntando neste Núcleo para lutar e dizer ‘a gente quer assim e vamos conseguir”, relata a estudante do 3º ano do Ensino Médio.

Foto: Comunicação/CCLF

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Fotos: Comunicação CCLF