A juventude quilombola de Mirandiba, cidade do sertão pernambucano, é protagonista na luta pelo direito à educação, participando ativamente no processo de articulação da Lei Municipal Nº 683/2020, que estabelece as Diretrizes Curriculares da Educação Escolar Quilombola. E não foi diferente no retorno às atividades presenciais do projeto Educquilombo – Educação Escolar Quilombola durante os dias 22 a 30 de abril.

No primeiro sábado desse cronograma (23), que ocorreu de modo semi-presencial em função da logística, o Núcleo de Juventude, Educação e Comunicação de Mirandiba contou com uma oficina de escrita voltada para as redes sociais, facilitada pelo jornalista e educador da Releitura – Bibliotecas Comunitárias em Rede de Pernambuco, Tarcísio Camêlo, que além das dicas gramaticais para o dia-a-dia, ensinou a como ler e construir uma notícia por meio do lead jornalístico, das questões essenciais sobre determinada pauta – o lead é associado à seis perguntas chaves, são elas “o quê?”, “quem?”, “como?”, “quando?”, “onde?” e “por quê?”.

Oficina de escrita com Tarcísio Camêlo. Foto: Reprodução/CCLF

O domingo (24) foi o Encontrão dos integrantes do Núcleo de Juventude, com a equipe de comunicação do CCLF e da TV Viva, em parceria com a Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (ASCQUIMI), no Centro de Cultura e Cidadania Zumbi dos Palmares, no centro do município. A atividade aconteceu, no primeiro instante, para se conhecerem pessoalmente e estreitar os laços, uma vez que a distância entre algumas das comunidades quilombolas mirandibenses são grandes e o transporte entre os territórios são precários.

Núcleo de Juventude, Educação e Comunicação de Mirandiba. Foto: Comunicação/CCLF

Rebecka Santos – jornalista e coordenadora do Programa Comunicação e Incidência e Direito à Comunicação do CCLF – e Edinho Soares – repórter cinematográfico da TV Viva – também realizaram uma oficina para o manuseio dos novos equipamentos de audiovisual entregues para serem usados pelo Núcleo, entendendo que, no mundo digital, é necessário fortalecer o acesso a materiais que possam garantir o Direito Humano à Comunicação. Na ocasião, as e os jovens foram instruídos sobre os cuidados e possibilidades que as câmeras, tripés e microfones oferecem.

Além disso, foram trabalhadas técnicas de entrevista, orientando sobre captação de vídeo, de áudio, registro de imagens de apoio, enquadramento, abordagem à fonte e condução da entrevista, num momento de aprendizado e curiosidade que aliou teoria e prática.

Oficina de técnicas de entrevista. Foto: Comunicação/CCLF

Uma vez que a Lei Municipal Nº 683/2020 foi aprovada, a luta segue para a sua efetiva implementação e, nesse sentido, uma formação sobre as Diretrizes Curriculares da Educação Escolar Quilombola em Mirandiba foi ministrada para os jovens do Núcleo na quinta-feira (28). A atividade foi conduzida por Rogério Barata, educador do CCLF, integrante da Rede de Ativista pela Educação do Fundo Malala no Brasil e coordenador do projeto.

Dinâmica na formação sobre a Lei Nº 683/2020

Sendo um espaço para tirar dúvidas e provocar a juventude sobre que tipo de educação querem e almejam, a formação teve intensa participação das/os jovens, de idades variadas, que numa das dinâmicas apresentaram pistas de como imaginavam a escola ideal. As respostas foram desde uma alimentação saudável, baseada na agroecologia e em sintonia com a cultura local, até a arquitetura das escolas, para que se assemelhem à disposição espacial dos quilombos e facilite a integração de alunos e alunas de diversas turmas.

“Educação quilombola é lei!” – foi o coro da juventude quilombola.

A fim de praticar parte daquilo que foi desenvolvido ao longo da semana, um ato de rua aconteceu na sexta-feira (29), durante a feira livre de Mirandiba, evento que reúne e movimenta o centro da cidade. A ação despertou a curiosidade dos transeuntes, que logo recebiam informações sobre a Lei Nº 683/2020 por meio dos panfletos que foram distribuídos pela juventude, das conversa das/os jovens, das falas no caixa de som e dos lambes colados nos postes e paredes de comércios que apoiaram o movimento.

Lambe-lambe. Foto: Comunicação/CCLF

Os lambes, cartazes colados com “grude” – tipo de cola caseira -, é um poderoso instrumento de comunicação dos Movimentos Sociais, servindo para retificar a mensagem-chave trabalhada em ações e projetos. A juventude, sujeito de direito da defesa pela educação escolar quilombola, assumiram o protagonismo dessa iniciativa e ampliaram suas vozes, provocando a cidade a se juntar na luta pelo acesso das crianças aos 12 anos de educação básica e de qualidade.

Ação de rua no centro de Mirandiba. Foto: Comunicação/CCLF

Vitória Souza, estagiária do projeto Educquilombo e uma das participantes do Núcleo de Juventude, fala da importância desses encontros para o grupo. “Aprendemos um pouco a usar os equipamentos, os locais adequados para uma melhor iluminação, a questão do áudio dos vídeos… Na oficina sobre as Diretrizes, podemos ter uma visão mais ampla do projeto e quais questões futuras podemos trabalhar dentro do Núcleo. O lambe lambe, confesso que foi algo muito novo para mim e que me chamou muita atenção, pois nunca tinha visto algo parecido na cidade e isso ser feito pelos jovens foi algo incrível, nos mostrou novos caminhos para que possamos atingir a população e, principalmente, dos órgãos públicos”, afirma a jovem.

Houve também intervenção artística, por parte de um grupo de dança organizado por jovens que integram o Núcleo e o PROJOVEM na cidade. Vestindo roupas de caboclinhos, atraíram ainda mais os olhares de quem passava pela tenda montada numa das principais ruas do município. Paralelamente, o Centro de Cultura e Cidadania Zumbi dos Palmares servia como ponto de apoio para tirar o título das/os jovens eleitoras/es, em especial das/os que completam 16 anos até o dia 2 de outubro, numa ação da campanha #MeninasDecidem da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil.

Jovem tira título de eleitora. Foto: Comunicação/CCLF

 

O projeto Educquilombo – Educação Escolar Quilombola é fruto da parceria entre o CCLF e a ASCQUIMI, apoiados pelo Fundo Malala em Pernambuco.

 

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Escrito por Marcelo Dantas, estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e estagiário de comunicação do CCLF.

Editado por Rebecka Santos, jornalista e coordenadora do Programa Comunicação e Incidência e Direito à Comunicação do CCLF.

 

Fotos: Comunicação CCLF